domingo, fevereiro 3

Garibaldis e Sacis espalhou sua alegria no Sítio Cercado

O sol estava pegando e a turma animada para o primeiro Garibaldis e Sacis fora do centro da cidade. No dia de Yemanjá a festa era de céu azul e terra vermelha e amarela. No começo as pessoas estavam tímidas, nas calçadas, janelas começaram a abrir, sorrisos a aparecer, viam-se dedos levantando. Passados alguns minutos, quando o mestre da folia Itaércio Rocha chamou o povo para rua, logo todos obedeceram e o mar de gente tomou conta da Avenida São José dos Pinhais, no bairro do Sítio Cercado. Coisa linda de se ver, a rua, minha gente, é do povo, e não dos carros, é do povo que sabe viver intensamente quando é contemplado com cultura e arte, sabe sorrir, sabe brincar, sabe pular o carnaval. 


Um orgulho danado da nossa gente, nossa gente curitibana que tem todos os rostos, cheiros, sabores, e que sabe sim conviver em harmonia com todas essas diferenças é só dar ao povo o que é do povo, cultura,  espalhar sorrisos, enquadrar pessoas em um mundo mais lúdico, colorido, tirar do dia-a-dia cotidiano, levar e ensinar que a arte pode trasnformar, pode libertar. Quando o canto da yemanjá e dos orixás ecoou, janelas se fecharam, Thiago me disse que parecia antigamente quando as Igrejas fechavam as portas ao ver o bloco passar. Muitos evangélicos no Sítio, no entanto, é essa mistura que faz o encanto, mesmo torcendo nariz eles aceitaram, continuaram a brincar, e, o Garibaldis e Sacis cumpriu mais uma meta, espalhar o respeito às diferentes religiões,à diversidade, o respeito à umbanda, ao candomblé, as religiões de origens africana que são alegres e festivas e que são as donas do batuque que balançou as dezenas, eu diria centenas, de pessoas que brincavam ali.


Emocionante, não tem outra palavra. Ariosvaldo Cruz e Olga Romero, veteranos do bloco, emocionaram-se ao me dizer que agora sim o Garibaldis e Sacis cumpriu sua função de 'espalhar a alegria'. Rogério Guiraud, também membro do bloco e morador do bairro Sítio Cercado estava muito emocionado, comentou que é isso, precisamos ir além do centro, formar novos batuqueiros, trazer aos bairros o bloco, mas também ajudar eles a formarem seus próprios blocos. O Garibaldis e Sacis cumprindo a função de movimentar o carnaval de marchinhas nas ruas de Curitiba. Isso vai valorizar as escolas de samba que já fazem seu trabalho lindamente há anos e não tem seu devido valor, quebrando essa 'tradição' de que Curitiba não tem carnaval, esta bobagem criada pelo pessoal jacu que acha que Curitiba é só o Batel-Centro, que ainda acha que Curitiba é Europa do Brasil que vetou nossa festa porque Curitiba tem que ser fria, tem que ser crua, pastel, morta como uma passarela de granito pra gente plastificada desfilar. Não, Curitiba é Brasil, com todas as cores, tradições e alegria típica do povo brasileiro, Curitiba é azul, branca, rosa, negra, amarela é colorida e desfila a beleza brasileira, como fez ontem, no Sítio Cercado.


As novas gerações nunca mais ficarão sem o carnaval, Thayana Barbosa e sua mulher maravilha, Melina Mulazani e a bruxa da Branca de Neve reviraram o imaginário delas que sonharam um dia ser maravilhas também, ficaram com medo da maçã da bruxa, mas também queriam usar sua coroa. Itaércio Rocha parecia mais em casa do que nunca, Leandro Leal cantou pra galera, O saci Lirou relembrou o Garibaldis e Sacis do início, os velhos tempos, Ana Modesto feliz com dua Frida, Carioca e Priscila cantavam felizes com a  bateria, uma bateria linda demais que fez a Rose descer do caminhão e ir pra galera, bateria que eu, vestida de yayá, banhei com alfazema quando o canto foi pra ela, lá de cima daquele caminhão, cheio de magia e encanto. Até a vice - prefeita, Mirian Gonçalves, se esbaldou com a galera, caiu no samba e era só sorrisos. A prefeitura, na figura da vice e do presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli, presentes no evento, junto com o povo, em um dia que irá entrar para a história da cidade.



Para terminar uma chuva que mamãe Yemanjá mandou para curar, para limpar a cidade que um dia foi cinza, mas que suplica por mais cor, Marcel Cruz voltou a ser piá e se esbaldou na chuva, e todos voltaram para o bonde da alegria, afinal no domingo à volta ao Largo da Ordem, e ai, é outro dia...

2 comentários:

Priscila Maris disse...

lindo de viver! parabéns pelo texto Anaterra, você disse tudo!
beijo, Priscila Maris.

Grace Filipak Torres disse...

Parabéns, Anaterra, pela sensibilidade e contund~encia do seu texto. obrigada!